Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - O tom mais agressivo adotado pela candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, no debate realizado pela TV Bandeirantes no domingo visou tirá-la de uma posição defensiva em temas polêmicos, mas é uma estratégia arriscada, segundo analistas.
Ao contrário de debates realizados no primeiro turno da disputa pelo Palácio do Planalto, quando Dilma sistematicamente ignorou José Serra (PSDB), desta vez foi para cima do adversário desde o início do encontro, reclamando do que chamou de campanha caluniosa, incluindo a discussão em torno do aborto.
O comportamento da candidata do PT foi no sentido contrário do que geralmente é adotado por candidatos que lideram as pesquisas de intenção de voto, como é o caso dela. Nessa posição os candidatos costumam adotar uma postura mais amena.
"Ela está na frente nas pesquisas, mas estava numa situação defensiva até ontem (domingo), porque ela teve que se explicar em relação às questões do aborto, às questões da Erenice (Guerra, ex-assessora de Dilma, acusada de envolvimento num esquema de corrupção)", disse à Reuters o cientista político Carlos Melo, do Insper (antigo Ibmec).
"Eu imagino que o movimento ali tenha sido o de sair da defensiva e colocar a discussão num outro patamar, tirando a iniciativa do José Serra no que diz respeito àquelas questões."
Ricardo Ribeiro, analista político da MCM Consultores Associados, concorda. "Ela (Dilma) continua na frente, com uma margem de 7 pontos, 8 pontos considerando-se somente os votos válidos, mas ela vem perdendo terreno", avaliou.
O risco, para Ribeiro, está na mudança da imagem percebida pelos eleitores. "É uma tática arriscada porque durante o primeiro turno não foi essa a Dilma que se apresentou para o eleitorado", lembrou.
Na discussão sobre o aborto, Dilma lembrou de normatização de Serra, quando ministro da Saúde no governo FHC, sobre atendimento de mulheres em hospitais públicos citou até a mulher do tucano, Monica Serra, que teria dito durante a campanha que a petista seria a favor de matar criancinhas.
Além disso, tentou colar em Serra a pecha de privatista e chegou a mencionar notícia de que um membro da campanha do tucano teria fugido com 4 milhões de reais arrecadados para a disputa.
Já Serra, mesmo atirando contra a corrupção do caso Erenice e os apoios dos ex-presidentes Fernando Collor de Mello e José Sarney à petista ou ao que chamou de incoerência quanto à posição da adversária em relação ao aborto, manteve um tom menos beligerante.
REPETECO?
O tom mais agressivo de Dilma no debate da Bandeirantes lembrou postura parecida adotada pelo governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), em debate do segundo turno da eleição presidencial de 2006 contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Mas para Carlos Melo, do Insper, as comparações param por aí. "O Alckmin foi com uma agressividade para cima do Lula, que o Lula pôde se vitimizar ali. Ontem o que você viu foi a Dilma se vitimizando, ela se colocando na condição de injustiçada", disse.
Para ele, os temas aborto e corrupção "saem um pouco da agenda", mostrando otimismo com o nível da discussão daqui para frente. "Talvez, agora, isto posto, a gente possa discutir política."
Mas, para Ribeiro, da MCM, o primeiro debate do segundo turno da disputa presidencial mostrou qual deve ser o tom do restante da campanha até o dia 31 de outubro.
"Se você observar os spots (inserções no rádio e na TV) dos dois candidatos, um está falando mal do outro", disse.
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